Experiências culturais singulares no Brasil

Aos pés da Serra de São José erguem-se sobre as ruas de pedra muito pacatas belos casebres, casarões e igrejas do século XVIII, convidando o visitante para um lento caminhar contemplativo ou a um charmoso passeio de charrete. As pousadas são das mais charmosas e aconchegantes, o que se repete com os restaurantes que ofertam o que há de melhor na culinária mineira, fazendo da cidade de Tiradentes um irrecusável convite aos que desejam desligar-se do ritmo frenético dos grandes centros para encontrar a paz interior em um lugar que parece estar lá, parado no tempo, sempre a espera das almas que irá abraçar e acalentar. Experimentar Tiradentes não raro faz com que as lágrimas rolem sem razão aparente e com leveza pelo rosto dos que por ela passeiam ou dos que simplesmente recostam-se nos bancos de sua charmosa e arborizada praça: talvez seja um movimento interior da alma produzido ao perceber como a vida poderia ser mais simples, leve e adocicada. O fato é que a atmosfera de Tiradentes evoca emoções enterradas na alma de todos nós, algo que raríssimos lugares no mundo ainda conseguem fazer!

A capital da Bahia foi também a primeira capital do Brasil. Fundada em 1549 pelos portugueses, Salvador deixou para os dias atuais um legado cultural indispensável para quem deseja conhecer as origens do país. Majestosas igrejas de estilo barroco e obras de arte sacra banhadas a ouro misturam-se a antigos e coloridos casarões no Pelourinho, o centro histórico da cidade. A culinária mistura elementos herdados dos costumes portugueses com uma forte influência africana, o que se repete na própria cultura local. Orgulhosa anfitriã da maior festa de rua do mundo (carnaval), a cidade repleta de música, arte popular e cores também nos apresenta um roteiro envolvendo belíssimas praias que se estendem por toda a região. O único alerta indispensável para o turista que visita Salvador é: experimente o acarajé soteropolitano apenas se você pretende voltar ao destino mais vezes, caso contrário a saudade e o desejo podem se tornar um problema constante na sua vida.

Em Santa Cruz de Cabrália, Bahia, no dia 26 de abril de 1500, o frade Henrique de Coimbra celebra a primeira missa do Brasil. Curiosos, os índios se reúnem para assistir a celebração e começam a falar alto entre si, provavelmente admirados e curiosos com o que viam. O líder da tribo grita, os índios se calam e a missa é interrompida, todos olham para o cacique que faz para a sua tribo um gesto simples: ele aponta para os céus com o dedo indicador, enquanto encara os índios como que repreendendo-os. Os índios respondem com olhar de espanto seguido por um devocional silêncio. O padre compreende o que ocorrera e continua a celebração da missa, que transcorre em sacro silêncio e respeito. No dia seguinte os índios veem os portugueses se prostrarem de joelhos diante da cruz ali erguida para beijá-la; os nativos entram na fila e respeitosamente fazem o mesmo. Este curioso fato é um símbolo de algo peculiar que ocorrera na colonização latina das américas, a bem aventurada assimilação dos índios ao cristianismo. Passados 80 anos da primeira missa na Terra de Santa Cruz, frades jesuítas e franciscanos chegam ao sul do país, onde fica o atual estado do Rio Grande do Sul, pacificam e unificam as tribos da região, as ensinam sobre Cristo e junto com mais de 50.000 índios guaranis fundam as Reduções: uma espécie de nova civilização quase utópica onde o cristianismo poderia ser plenamente vivido por homens que ainda não haviam sido corrompidos pelos vícios e paixões que dominavam a civilização europeia. O sonho dos frades virou também o sonho dos índios e as suas missões prosperaram por mais de 150 anos. O sonho, porém, fora interrompido em 1753, quando tropas portuguesas e espanholas abriram guerra contra as missões por questões diplomáticas que colocaram índios e frades em rota de colisão com os seus planos para as américas. Padres jesuítas lutaram bravamente ao lado de guerreiros guaranis antes de serem derrotados e expulsos, deixando para trás a civilização que juntos construíram e viram prosperar. Hoje, em São Miguel das Missões, o turista pode observar as ruínas deste tempo, onde jesuítas e índios guaranis elevaram a arquitetura e a arte sacra a um novo patamar de sofisticação e beleza na tentativa da construção de um sonho divino interrompido pelas motivações mundanas de alguns poucos e poderosos homens.

Em meados de 1843, Dom Pedro II escolheu uma região de belas montanhas a mais de 800 metros acima do nível do mar e próxima a antiga capital do império (Rio de Janeiro) para construir a sua cidade: assim nasceu Petrópolis (cidade de Pedro). Nos dias atuais a gloriosa cidade erguida entre as belas montanhas de mata atlântica e repleta de palácios e palacetes onde já habitaram reis e rainhas, barões e baronesas e condes e condessas é um dos destinos históricos mais importantes do país. Piscinas naturais, tour pela incrível experiência da cervejaria Bohemia, restaurantes charmosos e de boa gastronomia, visita ao Museu Imperial e a casa de personalidades como princesa Isabel e Santos Dumont são apenas algumas das experiências incríveis que este verdadeiro tesouro histórico, arquitetônico, natural e cultural brasileiro reserva a seus visitantes.

A única cidade brasileira fundada por franceses teve também uma forte influência dos holandeses que a dominaram militarmente, a saquearam e ali viveram por 3 anos antes da retomada portuguesa que ocorrera em 1644 a custa de muito sangue e da destruição de boa parte da cidade. A herança destes conturbados períodos foi uma capital nordestina com mais de 4.000 construções históricas entre fortes, casarões e igrejas. Em 1621 a administração do Brasil foi dividida em duas unidades administrativas, a do Estado do Brasil e a do Estado do Maranhão, da qual São Luís foi a capital, o que de certa forma faz com que ela possa ser considerada uma das antigas capitais do país e o que também contribuiu para o aumento da prosperidade da região e com a construção de ainda mais edifícios históricos. Com uma infra estrutura urbana e turística moderna de belos hotéis, shoppings e orlas muito badaladas, a capital maranhense vai além do riquíssimo destino cultural e histórico para também conquistar o visitante pela gastronomia local e por suas agitadas praias repletas de barzinhos e quiosques a beira mar. Se você tem vontade de conhecer o destino com a herança cultural e histórica mais singular do país e ao mesmo tempo curtir um badalado destino de praias, então você tem vontade de São Luís.

Pairando sobre límpidas águas da calma baía, isolada da solidão por centenas de belas praias que a acompanham, a brisa suave a empurrar o veleiro beija também com doçura a face e os olhos, que espantados avistam os históricos casarões coloniais a abrigar charmosas pousadas e sofisticados restaurantes de cadeiras nas calçadas postas, os quais parecem desejar o encontro com a central igreja barroca e junto a ela se elevam sobre as ruas de pedra, emoldurados pelas verdes montanhas de mata atlântica repleta de nascentes e cachoeiras, cujo som no silêncio pode-se ouvir. Você está em Paraty e ela jamais deixará de estar em você.